Irmã Margarita Cervantes Santillán

Uma porta que se abre, um horizonte que se rasga

 

“Tinha uma certeza interior de que ao se abrir uma daquelas portas, um novo horizonte se abriria para mim…”

 

Eu sou a Irmã Margarita Cervantes Santillán, religiosa da Aliança de Santa Maria na comunidade de Lisboa, atualmente colaboro com o Seminário dos Olivais nos serviços administrativos.

Foi em Los Angeles, Califórnia, onde vivia com a minha família originária do México, que um novo desafio se abeirou da minha vida: colaborar em part time, no censo dos Estados Unidos do ano 2000. Desafio que abraçava sempre que batia a uma porta para pedir que preenchessem os formulários, pois tinha uma certeza interior de que ao se abrir uma daquelas portas, um novo horizonte se abriria para mim.

Embora nascendo no seio de uma família católica e devendo muito da minha educação cristã às irmãs dos colégios onde estudei, não se apartava de mim um certo vazio interior que não era preenchido nem por uma experiência de amor humano, sucesso profissional, novos estudos, dinheiro ou modas. Esta falta de sentido, tornou-se mais consciente em mim, quando numa missa me revi nas palavras do cântico de pós-comunhão: “busco e eu não sei que busco, creio que é um rosto que perdi, sinto uma grande nostalgia de algo que me faz falta desde que nasci. Chaga, chaga sempre aberta cheia de vazio está”.

Neste part time, a primeira porta que se abriu foi a de um senhor italo-americano, que conviveu com o Padre Pio e que com ele teve a sua conversão de vida. O seu nome era Charles (Charlie) Mandina, um membro da terceira ordem franciscana, mas que na sua juventude tinha sido fotógrafo profissional das estrelas de Hollywood e dado voz ao conhecido Pato Donald. Depois desse encontro ele me disse que eu seria apostola do rosário e que rezaria por mim para que fosse freira, ao que logo pensei: “freira, eu não! A minha irmã, sim, é muito boa! Vou apresentá-la para que aplique por ela essa intenção”.

O que me impressionou no Charlie foi ele ter contactado com um santo. Pude ver nele um verdadeiro homem de Deus e comecei a abrir-lhe o coração. O Charlie foi para mim um excelente diretor espiritual: conduziu-me à oração e aos sacramentos, fez-me procurar o verdadeiro sentido da vida. Graças a esta amizade inesperada, enviei para Fátima uma carta dirigida a Nossa Senhora, pedindo-lhe que dissesse a Jesus para me mostrar o caminho a seguir e que uma vez conhecido, o seguiria, custasse o que custasse.

Nossa Senhora não tardou muito em responder. O Charlie já conhecia as irmãs da Aliança de Santa Maria e propôs-me ir passar uns dias a Fátima. Gostei da ideia, mas ao mesmo tempo tinha medo de me lançar nesta aventura onde tudo era desconhecido para mim – o país, as irmãs, a língua e a cultura. No meio destes medos e incertezas, aproximei-me de um sacrário e fiz esta oração: “ó Jesus, dou-te graças por teres atendido sempre as minhas preces e concedido os meus pedidos, mesmo que, algumas vezes com demora, mas houve uma coisa que nunca me concedeste… Porventura, queres tu que eu seja tua esposa?” A partir desse momento começou a clarificar-se aquilo que já pressentia no meu mais íntimo, mas que não sabia dar nome: a hipótese de que talvez o caminho que Deus teria escolhido para mim fosse a vida consagrada.

A viagem para Portugal foi pautada por dois voos. De Los Angeles até Nova Iorque sentia-me em casa, livre de voltar atrás. Mas, quando o avião descolou de Nova Iorque para Lisboa senti que a minha única segurança era Deus e que nos seus braços de Pai, me lançava com confiança.

Passei três semanas em Fátima com as irmãs da Aliança de Santa Maria. Cativou-me nelas a sua alegria, o seu amor ao Santíssimo Sacramento, a sua entrega reparadora e o amor fraterno que entre si comungavam e que as fazia participar de um autêntico espírito familiar, já que, têm uma MÃE, Maria. Compreendi que era esta a família que procurava e que, desta forma, Nossa Senhora me respondera à carta que lhe tinha enviado. Aí descobri o rosto perdido que sempre procurei, Jesus Cristo.

Para uma emigrante mexicana como eu, foi difícil trocar o “sonho americano”, pelos sonhos de Deus, mas não me arrependo de me ter lançado nesta aventura, onde Deus não me deixa de surpreender com “graças sobre graças” (Jo 1, 16).

Voltei a Portugal em Outubro desse mesmo ano, após a queda das Torres Gémeas, percorrendo a mesma rota, numa altura em que os voos eram muito incertos, quase vazios, o que até me possibilitou viajar em primeira classe. Chegada a Fátima, aí entreguei toda a minha vida a Jesus Cristo, na Aliança de Santa Maria. Hoje sou religiosa desta família, tendo feito a minha profissão religiosa perpétua a 8 de dezembro de 2008.

Irmã Margarita Cervantes Santillán, abril de 2020

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