Uma Páscoa inesquecível

Todos temos consciência da gravidade dos motivos que definiram as condições em que este ano celebrámos a Semana Santa.

Se muito nos entristece o facto de a maior parte dos cristãos estarem privados da presença física nas celebrações, não podemos deixar de reconhecer a graça que temos tido de poder celebrar integralmente a liturgia de cada dia, em união com todos os que na presente circunstância não o podem fazer.

Apesar das necessárias adaptações que as presentes condições de saúde pública impõem,

a situação de confinamento social em que nos encontramos permitiu-nos viver também toda a Semana Santa e, particularmente, o Tríduo Pascal em circunstâncias únicas – inéditas, creio, na história do seminário – e, por isso, inesquecíveis.

Em condições normais, participamos na liturgia da catedral das respetivas dioceses ou na comunidade paroquial de cada um, conforme as etapas formativas.

Este ano foi diferente. Sentimos realizar-se aqui, como que literalmente, aquela palavra de Jesus que escutávamos no Evangelho da missa de quarta-feira da semana Santa: «É em tua casa que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos» (Mt 26, 18b).

Foi evidente o reconhecido empenho de todos na preparação das celebrações, e o modo como cada um as viveu intensamente.

Recordamos, particularmente, o arranjo dos espaços (os ornamentos para a celebração do Domingo de Ramos, o despojamento do lugar da celebração nos dias que se seguiram, o especial cuidado no embelezamento do oratório para a Missa da Ceia do Senhor e, mais ainda, para a celebração da Vigília e dos dias festivos que se lhe se seguiram); recordamos o dedicado serviço de sacristia, com tudo o que era necessário para cada celebração; recordamos o cuidado serviço do altar e da proclamação das leituras e dos salmos; a exigente preparação do canto, tão diversificado ao longo da semana, com os ensaios que implicou. Tudo para que celebrássemos com dignidade, beleza e profundidade espiritual, na nobre simplicidade que a liturgia da Igreja requer.

Recordamos ainda o esmero na preparação das refeições como momentos conviviais que se seguiam às celebrações ao longo da semana, particularmente a surpresa com que os seminaristas agraciaram os padres da equipa formadora em Quinta-feira Santa, bem como ceia festiva depois da Vigília pascal.

É difícil descrever a profundidade e a beleza de cada um dos momentos celebrativos ao longo da semana – porque foram muitos! Mas recordo de modo particular a Vigília Pascal na noite santa com cada um dos elementos que a compõem, vividos num ambiente de profunda contemplação e intensa participação.

Foi, sem dúvida, uma Semana Santa inesquecível. E continuamos a saborear os seus frutos ao longo deste Tempo Pascal que estamos a viver.

Pe. Pedro Lourenço, abril de 2020

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