Arickson Maocha

Tempo de Seminário, tempo de namoro, tempo de surpresa!

 

De que namoro estamos a falar? Será do namoro que, muitas vezes, o mundo vai veiculando: um namoro sem compromisso, que aparece enraizado na egoísta satisfação de desejos pessoais (uso do outro, sem reciprocidade, ou mesmo num uso recíproco)? A verdade é que, no tempo de seminário, corremos o risco de estar nesse tipo de namoro. Então o que se vive num seminário?

Ora, de facto, o tempo de seminário é um tempo de namoro, mas de um namoro como caminho, ou melhor, como uma etapa de um caminho que o ultrapassa, de um caminho que não se encerra em si próprio. Não temos vocação para ser seminaristas, não namoramos a vida toda. O namoro é uma fase que tem em sim uma “meta” maior.

Sim, o tempo de Seminário é um tempo de namoro sério, um tempo de viver o que lhe é próprio: não tempo de querer viver como um “solteirão” que não valoriza o namoro, que é infiel ao namoro, ou que tem mais de uma namorada – ou não ama nenhumas dessas “amadas”, ou ama uma e usa a(s) outra(s); mas também, não é tempo de querer viver, já, a “vida de casado”  –  esse tempo é dado ao namoro (seria “queimar” uma etapa linda e fundamental num tempo de seminário frutífero).

Então, o que é próprio do namoro em tempo de seminário?

Jesus ensina-nos a forma de viver o nosso tempo de seminário: como Verdadeiro Esposo diz à sua Amada: “Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6, 31), isto é, aproximai-vos de Mim, vinde beber de Mim, vinde aprender de Mim; retirai-vos do mundo e sossegai o vosso coração, “descansai um pouco”. Isto é o fundamental do tempo de seminário que é um tempo de conhecimento (da’at intimidade), tempo de aprender, com Cristo, a ser esposo amado, tempo de se enamorar com a Igreja Amada e aprender com ela a dar sem medidas, como Cristo se entregou para a salvação de toda humanidade. É tempo de, através de coisas simples e, muitas vezes, ordinárias, reconhecer o rosto e a vontade do Esposo. Tudo isto passa por uma vivência pessoal, fraterna, comunitária e verdadeira do amor de Deus.

Esse namoro e esse amor, vivem, sobrevivem e desenvolvem-se através de gestos e sinais, concretos. Vivem da graça e do esforço de quem quer caminhar – passo a passo, sem “queimar” etapas nem estacionar – para um compromisso sólido e definitivo, que Cristo nos vai revelando ao longo desse namoro: um compromisso que se solidifica com a verdade nesse processo de namoro. Este é o tempo de aprender a ler esses sinais de Cristo, dados pela Igreja, e a concretizá-los no nosso dia-a-dia, com gestos que espelhem e confirmem esses sinais.

A nossa atitude é a de estar: estarmos confiantes na acção de Cristo na nossa vida; estarmos em fidelidade ao que a Igreja nos vai desafiando; estarmos atentos ao que nos envolve e acima de tudo estarmos abertos à surpresa: ter um coração disponível para se surpreender com a beleza do que Deus nos deu e nos vai dando, seja por experiências íntimas, seja por experiência comunitária, seja pelo testemunho do outro.

Sim, o tempo de seminário é tempo de namoro, é tempo de reconhecer-se amado e enviado, é tempo de aprender a amar e servir, é tempo de deixar-se surpreender com Cristo e com a sua Amada Igreja. Por isso: “vela com todo o cuidado sobre o teu coração, porque dele jorram as fontes da vida” (Pr 4,23).

 

Arickson Maocha, fevereiro 2020

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