Sagrado Coração de Jesus

O Bom Deus dá-nos a alegria de podermos celebrar a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, desde 1995 também Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes. A pandemia que ainda vivemos não anula essa alegria; aumenta ainda mais a necessidade de celebrarmos na vida de todos os dias o Amor de Deus, manifestado plenamente em Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

O Sagrado Coração de Jesus é o próprio Jesus e o seu próprio amor. Não há o amor de Jesus para um lado e o amor do coração de Jesus para outro, à parte, superior, mais amante…Nós é que precisamos de entrar com mais verdade e conversão no núcleo da vida cristã: o culto, na vida, ao amor com que Deus nos amou por meio de Jesus Cristo e o exercício desse amor que nos leva a amar a Deus e aos outros homens, amados por Ele.

No Coração de Jesus — parte integrante da natureza humana inteira assumida pelo Verbo —, adoramos a Sua Pessoa inteira; e contemplamos e recebemos o imenso e intenso amor que Deus nos tem: amor de procura, de paixão, sensível, forte. Tudo isto constitui esta Devoção, que havemos de distinguir das respeitáveis devoções que a podem acompanhar. Estas ficam dependentes da vivência de cada um. Aquela é imprescindível para quem se diga cristão.

Mas quando adoramos o Coração de Jesus, estamos a adorar quer o amor originário e incriado do Verbo, quer o amor humano de Jesus, com os seus afectos, paixões e sensibilidade. Sim, um coração humano! Deus continua a amar-nos com um coração humano!

E como está o nosso coração? Todos entendemos que esta pergunta não nos remete para a cardiologia e para a saúde deste nosso músculo. O que fica em questão é se nos vamos assemelhando ao Coração de Jesus, como Ele próprio disse que convém acontecer: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração…” (Mt 11, 29). Esta será a maior Devoção, porque ao contemplar o Amor de Deus pedimos que ele aconteça em nós, pela força do Espírito. Mas temos de partir da realidade. Somos humildes? Somos mansos? Perdoamos? Somos pacientes com a fraqueza do próximo? Ou temos um coração duro, vingativo, soberbo, violento, mesquinho, moralista?

Também não é difícil de perceber que, para esta transformação/configuração, é indispensável a nossa relação pessoal, íntima, afectiva (não afectada), até emotiva com o Senhor Jesus. Só assim chegaremos a ter um coração terno (não lamechas), forte (não fofinho), misericordioso, sensível aos problemas dos outros E olharmos para Ele como Coração de Jesus, caridade divina para nós, leva-nos a olharmos para Ele nos doentes, desempregados, refugiados, pobres… “Manter o olhar voltado para o pobre é difícil, mas tão necessário para imprimir a justa direcção à nossa vida pessoal e social. Não se trata de gastar muitas palavras, mas antes de comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina” (Mensagem do Papa Francisco para o IV Dia Mundial dos Pobres 2020, 3)

Quanto mais o nosso coração for parecido com o Coração de Jesus, tanto mais será corajoso, audaz, cheio de zelo evangelizador, e, particularmente nos padres, um coração de pastor como o d’Ele, que olhava para as pessoas concretas e amava-as na sua realidade. Também hoje, entrar nesta verdadeira devoção será olhar para tantas vidas destruídas, individuais e familiares, e crescer no ardor missionário, pela mais evangélica razão — o amor. Não para sermos mais, não para termos mais poder, não para os padres serem mais relevantes. Que seja antes, “a resposta sempre nova à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?» (Is 6, 8). Este chamamento provém do coração de Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na crise mundial actual.” (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões 2020).

Em qualquer Seminário, o que se pretende para os seminaristas é o mesmo que São João Paulo II desejava para os padres, quando anunciava o primeiro dia de especial oração pela sua santificação: “ajudar os sacerdotes a conformarem-se cada vez mais plenamente com o Coração do Bom Pastor.” (Carta do Papa João Paulo II aos sacerdotes por ocasião da Quinta-feira Santa de 1995, 8). Por isso, e ainda mais pela razão de ter Cristo-Rei como Padroeiro, há-de ser esse o desejo do coração de todos os que aqui vivemos. Este Cristo-Rei é o Sagrado Coração de Jesus, que tomando conta do nosso coração fará crescer o seu Reino — “reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz.” (Cf. Haurietis Aquas — Carta Encíclica do Papa Pio XII sobre o culto do Sagrado Coração de Jesus, 76, citando o Prefácio da Missa de Cristo-Rei).

Também neste ano de 2020, vamos junto de Jesus para Lhe pedir que nos dê do Seu amor para o amar a Ele e aos irmãos: Sagrado Coração de Jesus que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada vez mais!

Pe. Carlos Gonçalves, 19 de junho de 2020

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