Formação
Linhas orientadorasA etapa propedêutica enquadra-se já na formação inicial em ordem ao ministério ordenado, mas é ainda uma etapa prévia ao ingresso no Seminário Maior.
Os aspirantes ao Seminário que sejam admitidos pelo Bispo, ingressam no Seminário Maior de Cristo Rei, instalado nos Olivais.
A realidade do percurso do Seminário na mesma sede e com uma mesma equipa favorece a unidade formativa de todo o processo, o acompanhamento de longo prazo dos processos de amadurecimento e configuração, a relação de confiança (sem necessidade de recomeçar a meio), a superação da secundarização da etapa vocacional, antes vivida em Caparide.
A realidade do itinerário formativo por etapas (claras e específicas mas não estanques), com reflexo na própria localização espacial dentro do Seminário e nos próprios dinamismos de vida comunitária, favorece o acompanhamento mais próximo evitando-se a massificação da grande comunidade, permite uma acentuação diferenciada e diacrónica de vários elementos formativos, possibilita uma pedagogia «em espiral», «com a clara consciência que os seus objectivos [de cada etapa] são cumulativos e progressivos» (RF 61).

Acompanhamento anterior ao Seminário
O período embrionário de qualquer vocação sacerdotal pode acontecer de forma plural e diversa e encontrar múltiplas instâncias de acompanhamento pessoal e comunitário. Ainda que em alguns casos possa ser o próprio Seminário a realizar esse acompanhamento inicial, é muito salutar que se multipliquem as formas deste primeiro acompanhamento: o pároco e a paróquia, a capelania escolar ou universitária, os movimentos e associações eclesiais, alguns centros referenciais de dinamização vocacional, o serviço diocesano das vocações, o Pré-Seminário…
Quando, a dada altura, se começa a configurar o horizonte de uma entrada no Seminário, é fundamental que se encontrem formas de proximidade ente o possível candidato e o seu contexto (família e itinerário de acompanhamento) e a comunidade de formação onde poderá vir a ingressar. Tal é necessário para uma progressiva adesão interior à etapa vindoura, ajudando a superar receios e ilusões face ao desconhecido e, sobretudo, a iniciar aos processos de confiança para com as pessoas, ambiente e proposta formativa que se perspectiva poder vir a abraçar sem reserva. A participação prévia em algum(ns) momento(s) ou actividade(s) na comunidade de Seminário (nomeadamente a semana de verão), a combinar com a respectiva equipa formadora, apresenta-se como normalmente indispensável.
Esta orientação para os possíveis candidatos do Patriarcado de Lisboa aplica-se na admissão aos Seminários Menor e Maior. Neste último caso, ela aplica-se na admissão à Etapa Propedêutica, a todos, inclusive para quem vem do Seminário Menor.

Etapa propedêutica
Na fidelidade ao percurso feito na Igreja de Lisboa, e também aos documentos da Igreja que procuram responder aos desafios da formação sacerdotal que se colocam hoje, a etapa propedêutica deve surgir como o novo rosto do anterior Seminário Vocacional, surgido em Almada nos anos setenta, e depois continuado em Caparide desde 1999.
De facto, esse tempo de fundamentação vocacional e discernimento inicial em ordem ao sacerdócio podia ser feito em ambiente de Seminário Maior. Mas hoje, em que os candidatos chegam maioritariamente marcados pela profunda alteração da configuração das famílias, pela ausência de uma iniciação cristã profunda, pela descontinuidade da experiência eclesial, pela mentalidade antropológica e comunitárias oposta à perspectiva cristã, pela maturação afectivo-sexual sujeita ao relativismo das experiências já vividas, tal fase deve ser prévia ao ingresso no Seminário Maior.

Admissão ao Seminário
No final da etapa propedêutica, realiza-se a admissão ao Seminário. O candidato faz uma petição escrita ao Bispo, a quem compete a decisão de admitir ou não (mesmo quando a delega no Reitor do seminário).
Para admissão ao Seminário Maior (CIC cân. 241)
- Qualidades humanas e morais, espirituais e intelectuais.
- Saúde física. «O aspirante a seminarista deverá apresentar os resultados de exames médicos gerais, […] a fim de garantir a sua “saudável e robusta constituição”. (RF 196, nota 304).
- Saúde psíquica. «Será normalmente desaconselhada a admissão daqueles que sofrem de qualquer patologia, manifesta ou latente (esquizofrenia, paranoia, distúrbio bipolar, atraso mental, parafilia, etc.) em grau capaz de minar a discrição do juízo e, consequentemente, a sua capacidade de discernimento sobre a própria vocação» (RF 196, nota 305; 197).
- Rectidão de intenção.
- Iniciação cristã completa.
- Breve curriculum vitae com informação relevante sobre o percurso anterior (RF 200; 196, nota 306).

Etapa discipular
Como o nome indica, procura radicar decisivamente nos seminaristas a condição de ser discípulo, «chamado a deixar-se amar por Jesus Cristo, amando como Cristo amou, com uma amor que não é deste mundo mas está revelado na Sagrada Escritura, nas palavras e nos exemplos de Jesus; trata-se de um chamamento à síntese entre o amor sobrenatural e o amor natural, que é simultânea e inseparavelmente, amor a Deus e amor ao próximo. (…) O discípulo é chamado a amar com liberdade de coração. [Com um] amor a Deus, desinteressado, liberto quanto possível de intenções utilitaristas e egoístas» (RF 63).
DUPLO OBJETIVO GERAL
- «Na abertura ao Espírito Santo, [realizar] um trabalho sistemático da personalidade do seminarista no desenvolvimento das suas virtudes, com a consciência, aceitação e, quanto possível superação dos seus próprios limites» (RF 65).
- «Consolidar a identidade cristã dos seminaristas, em ordem à decisão definitiva de seguir o Senhor para o sacerdócio, sempre que reconhecida pela autoridade competente, a quem cabe declarar a autenticidade de vocação e a idoneidade do candidato» (RF 65).
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Iniciar às várias dimensões formativas
- Enraizar na vida comunitária
- Conduzir a uma segura decisão por Cristo

Etapa configuradora
Como o nome indica, procura configurar «a Cristo, Pastor e Servo, aceitando dar a própria vida pelos irmãos. A configuração exige um aprofundamento da relação e da contemplação da Pessoa de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, enviado ao Povo como pastor, segundo o desígnio de Deus. Portanto, o seminarista deve adquirir uma serenidade interior para estar disponível a aceitar o serviço mais humilde, a exemplo d’Aquele “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos”» (RF 69).
DUPLO OBJETIVO GERAL
- «Formação espiritual própria do presbítero, onde a configuração progressiva a Cristo torna-se uma experiência mística que, na capacidade de amar todas as coisas em Cristo, produz na vida do discípulo sentimentos e comportamentos novos, próprios do Coração do Filho, Servo de Deus» (RF 71).
- «Aprendizagem de uma vida sacerdotal, dedicada inteiramente ao cuidado pastoral do povo de Deus» (RF 71).
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Primeira fase (1º ciclo de teologia)
- Estruturar as várias dimensões formativas
- Solidificar a forma comunitária de vida
- Solidificar uma identidade diocesana
- Segunda fase (teologia pastoral)
- Dar continuidade aos objectivos do ciclo anterior
- Acentuar a vivência ministerial e pastoral
- Oferecer na fase ainda de Seminário uma experiência mais aproximada de uma pequena equipa sacerdotal

Dimensões transversais da formação
Princípio inspirador fundamental: a CARIDADE PASTORAL DE CRISTO
«Cada uma das dimensões formativas (…) destina-se à “transformação ou assimilação” do (seu) coração à imagem do (coração) de Cristo. (…) É a caridade pastoral, para o seguimento de Cristo Bom Pastor, a caracterizar, harmonizar e vivificar todo o processo educativo de preparação para o sacerdócio ministerial» (RF 93).
Dimensões formativas: HUMANA, ESPIRITUAL, INTELECTUAL E PASTORAL
«são quatro as dimensões que interagem simultaneamente no itinerário formativo e na vida dos ministros ordenados: a dimensão humana, que representa a “base necessária e dinâmica” de toda a vida presbiteral; a dimensão espiritual, que se contribui para definir a essência própria do ministério sacerdotal; a dimensão intelectual, que oferece os instrumentos racionais necessários não só para a compreensão dos valores próprios do ser pastor, mas também para procurar incarná-los na vida e para transmitir o conteúdo da fé de modo adequado; a dimensão pastoral, que constitui a condição prática para o serviço eclesial» (RF 93)
Meios orientadores: o ZELO MISSIONÁRIO e a COMUNHÃO.
«O anseio missionário e o envio concreto em acto fazem parte do ser próprio de todo o Povo de Deus, que deve pôr-se constantemente “em saída” visto que “a alegria do Evangelho que preenche a vida da comunidade dos discípulos é uma alegria missionária”. Tal zelo missionário diz respeito de modo ainda mais especial a todos os que são chamados ao ministério presbiteral, não como uma quinta dimensão em si mesma a par das outras quatro mencionadas acima, mas sobretudo como fim e horizonte de toda a formação, em articulação com a comunhão. O anseio missionário revela-se, pois, como o fio condutor que une as quatro dimensões já mencionadas, as anima e vivifica, e permite ao sacerdote humana, espiritual, intelectual e pastoralmente formado, viver plenamente o seu ministério…» (RF 94).
«Os seminaristas serão chamados, com o sacramento da Ordem, a reunir na unidade e a presidir ao Povo de Deus. (…) A vida comunitária no Seminário é o contexto mais adequado para a formação de uma verdadeira fraternidade presbiteral e constitui o âmbito para o qual concorrem e no qual interagem todas as dimensões formativas, harmonizando-se e integrando-se reciprocamente. (…) Alguns comportamentos e instrumentos formativos (por exemplo, a comunicação clara e aberta, a partilha, a revisão de vida e a correcção fraterna, a comunicação sincera dos próprios planos e projectos) podem ajudar o seminarista neste caminho» (RF 167).
TRADIÇÃO INSPIRADORA DO SEMINÁRIO MAIOR EM LISBOA
- A centralidade da vida espiritual numa progressiva capacitação para a responsabilidade em liberdade e a solidez do estudo dos mistérios cristãos em ordem a uma leitura teológico-pastoral da vida, veiculadoras do princípio fundador de formar padres santos e sábios.
- A sólida espiritualidade diocesana, unidade de comunhão e serviço com o Bispo, em presbitério e na corresponsabilidade entre todos os baptizados.
- A justa espiritualidade litúrgica, que foi pérola desta casa e coisa nova em Portugal.
- A progressiva formação pastoral, capaz de enraizar numa verdadeira configuração com Cristo, e não fique apenas por oferecer competências ou técnicas de “activismo pastoral”.
Se e quando necessário, pode-se prever «um período de formação fora do Seminário, […] para aprender línguas úteis, para experimentar a vida eclesial própria de uma cultura diferente ou para possibilitar um “período de estágio”, que sirva também para resolver algum problema “ligado à maturidade humana e ao discernimento vocacional dos jovens”» (RF 159). O seminarista deve ser confiado a uma comunidade eclesial, paroquial ou outra, podendo mesmo integrar-se em alguma família, tendo em conta o objectivo de tal período externo.