Encontrando-se o recém-eleito Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira com o bem-aventurado Papa Pio IX, em dezembro de 1929 – mês em que lhe foi imposto o barrete cardinalício –, quis o Santo Padre conhecer que programa delineava o prelado português para a sua diocese. Como o Patriarca dissesse que desejava a fundação de um Seminário, Pio IX encorajou-o de imediato: “Não hesite um momento. Esse é o caminho.” Com que recursos? “Com a Providência”, terá afirmado Cerejeira, tendo confirmada pelo Papa a certeza de que esta nunca lhe faltaria.

Do desejo do Cardeal Cerejeira, abençoado pelo Papa e certamente suscitado por Deus, nasceu o Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais, fundado em 1931. O projeto acalentado por Cerejeira revelava a sensibilidade e inteligência do seu coração de Pastor: via como a sociedade portuguesa e lisboeta, fustigada pelo anticlericalismo da I República e por tantas feridas de uma certa indigência moral e cristã, necessitava de uma Igreja renovada e atenta, que reapresentasse o Cristo que de novo pudesse insuflar a alma católica lusitana. Para tal, não outro caminho senão o de revigoração do clero, “com um estilo novo” – “padres santos e sábios”. Semelhante propósito de santidade exigia uma Liturgia nobre e bela, por meio da qual a Páscoa de Cristo conquistasse o centro da vida espiritual dos seminaristas; por outro lado, impunha-se uma formação teológica sólida que não dispensasse a atenção às questões levantadas – por vezes tão dolorosamente – pelo mundo de então como pelo de cada geração. O clero patriarcal cunhou a expressão de “padres do cimento armado” para designar os novos colegas advindos de tal formação.

Erigiu-se o belo edifício do Seminário na Quinta do Cabeço, com as linhas da modernidade concebidas por Porfírio Pardal Monteiro, cujo estilo bebia da vanguarda arquitetónica e seria reproduzido em tantas paisagens urbanas da capital portuguesa. No Oratório – centro da casa como da vida comunitária – Almada Negreiros assina os belos vitrais e as imagens de Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora de Fátima, ladeando o presbitério, bem como o trono eucarístico e o painel de loiça que o enquadra, no cimo do qual se destaca o brasão do Cardeal fundador. Pendendo defronte do trono, uma cortina de autoria da sua esposa Sarah Affonso, representando o Calvário que, afinal, preside a toda a espiritualidade daquele espaço orante.

A 24 de outubro de 1931 entraram os primeiros alunos, entregues pelo Cardeal-Patriarca a uma Equipa formadora de Padres franceses da Congregação dos Sagrados Corações, em quem o purpurado português via a solidez intelectual e espiritual que queria imprimir nos seus futuros sacerdotes. À cabeça, Monsenhor José Manuel Pereira dos Reis, que marcou profundamente o Seminário durante a sua reitoria e cujo legado, especialmente relevante no Movimento Litúrgico Português, perdura. A este sucederam, na missão reitoral, Mons. D. João de Castro, Cón. Abílio Cardoso, D. José Policarpo, D. Manuel Clemente, D. Nuno Brás e, desde 2011, o Cón. José Miguel Barata Pereira.

A quase centenária história do Seminário de Cristo Rei demonstra a sua vitalidade na qualidade de tantos sacerdotes e Bispos aí formados e no lugar de destaque que alcança na vida eclesial portuguesa. Momentos de crise o assolaram, como nos finais dos anos 60 e início dos anos 70: a demissão dos Padres dos Sagrados Corações como formadores, em desacordo com o Patriarca, por exemplo, na decisão de formar os seminaristas na recém-fundada Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa; a escassez de alunos (chegaram a transitar apenas quatro); a influência nefasta de tantas conturbações sociais e políticas do País. Nesses momentos, por vezes de perplexidade, certamente terá ecoado a certeza de fé que o Papa Pio IX manifestava e que todos estes anos fazem reverberar até hoje: nunca falta a sempre atenta e generosa Providência divina, que dispõe “pastores segundo o Seu Coração” (Jr 13, 5).

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