património

A nossa casa, coração da diocese

O edifício do Seminário

Depois das diversas dificuldades da Igreja em Portugal ao longo do século XIX e da agitação das primeiras décadas do século XX, finalmente, o sonho de anos era concretizado quando, a 24 de Outubro de 1931, o então Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira inaugurava o corolário do legado do seu longo pontificado: o Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais.

Assim, nos terrenos previamente adquiridos pelo Patriarcado de Lisboa da antiga Quinta de Moscavide, surge agora um edifício de portentosas dimensões como espaço de formação pessoal e teológica dos futuros pastores da Diocese de Lisboa. Para o efeito, o arrojado projecto foi traçado numa linha clara de vanguarda. Obedecendo aos gostos da arquitectura característica do período do Estado Novo, o edifício de três andares, de linhas simples e depuradas de grandes ornamentos, abre-se numa fachada contínua virada ao rio.

A austeridade e robustez deste edifício são a clara expressão da vida daqueles que aqui são formados, isto é, numa linha de formação para uma vida simples e discreta enraizada numa formação espiritual e humana de base sólida e fecunda. Desta forma se pode compreender, não só o estilo arquitectónico, mas também a própria planta do edifício, cujos amplos corredores de quartos – com a novidade para a época de serem espaços de recolhimento e estudo pessoal, substituindo o velho modelo de camaratas –estão assentes sobre duas galerias de nível térreo, onde funcionavam outrora as salas e anfiteatros para a formação académica, hoje usadas para diversos encontros e reuniões.

O oratório central

No centro da planta, como o coração da casa, surge o oratório principal. De nave única e grandes dimensões, o espaço destinado às celebrações litúrgicas comunga da mesma linha depurada do resto do edifício. A capela-mor está adornada com dois magníficos vitrais, com motivos alusivos à descida do Espírito Santo como sustentáculo da vida pastoral da Igreja, ambos da autoria do afamado artista Almada Negreiros, bem como a cortina que cobre o Trono Eucarístico, com a representação do Calvário, que foi concebida por Almada e pela sua esposa Sarah Affonso. O reflexo multicolorido dos vidros confere a este espaço uma singularidade verdadeiramente convidativa à oração.

É particularmente digno de nota que, ao pensar o Seminário, o Cardeal Cerejeira tenha convocado alguns dos grandes artistas do tempo, para ajudarem a expressar, com linguagem nova, as verdades de sempre.

As duas galerias que circulam o oratório abrem-se em catorze capelas laterais, e culminam num deambulatório que circula a capela-mor e que alberga o túmulo do primeiro reitor do Seminário, Monsenhor Pereira dos Reis. A planta de cruz latina é rematada no centro por uma cúpula, cujo exterior é coroado pela tiara dupla e pela cruz patriarcal, insígnias do Patriarcado de Lisboa.

Os jardins do Seminário

Para a tradição bíblica, o jardim é lugar de encontro com Deus. Na verdade, a Bíblia abre com o relato da Criação, onde Deus aparece a criar um jardim – que confia ao Homem – e a caminhar nele pela brisa da tarde (cf. Gn 2, 8-15. 3, 8), e fecha apresentando, nas suas últimas páginas, a imagem da Árvore da Vida plantada nas margens de um rio de água viva (cf. Ap 22, 1-2), que sacia a fome e sede de Infinito do coração humano.

O jardim do Seminário dos Olivais, diligentemente cuidado e cultivado com a ajuda dos seus funcionários e alunos, procura ser também este lugar de tranquilidade, beleza e contemplação. Assim, tornou-se espaço de oração, de leitura e acompanhamento espiritual para a comunidade do Seminário, que procura descanso à sombra das suas árvores e tranquilidade no sereno canto dos pássaros que aqui encontraram o seu refúgio. Até certos pavões fizeram do jardim a sua casa. E se é certo que, nos nossos dias, a imagem do pavão se associou à vaidade, a verdade é que os cristãos dos primeiros séculos viram nestes um símbolo da Ressurreição de Cristo, por causa das suas penas que, caindo como mortas, ressurgiam com maior beleza e esplendor.

Como pulmão verde no meio da cidade, o jardim do Seminário apresenta-se como um pequeno oásis de biodiversidade, na sua abundância de fauna e flora. Abundante é, também por isso, a sua beleza, que não se perde no Inverno e se manifesta exuberante na Primavera. Percorrendo os seus trilhos, chega-se ao espaço central da quinta, onde numerosas sebes desenham padrões floridos no jardim francês que circunda o lago, que por sua vez é coroado, num dos caminhos que a ele conduz, por uma imagem de Teresa de Lisieux, padroeira secundária deste Seminário Maior de Cristo-Rei.

O jardim está brilhante e florido,
Sobre as ervas, entre as folhagens,
O vento passa, sonhador e distraído,
Peregrino de mil romagens.

(…)

Na indizível verdura
Das folhas novas e tenras
Onde eu queria saciar
A minha longa sede de frescura.

Sophia de Mello Breyner, in «Dia de Mar», 1947

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