Padre André Beato

Estamos a celebrar mais uma Semana das Vocações, este ano, como em tudo, de forma diferente, pelas circunstâncias que todos sabemos. Como nos pediu o Papa Francisco, somos convidados a cultivar o espírito de gratidão. Bendizemos a Deus pelo dom de todas as vocações que suscita na sua Igreja. É com este espírito de gratidão que tenho olhado e rezado a minha história vocacional.

Nasci no dia 1 de fevereiro de 1993 e sou natural de Nisa (Alto Alentejo). Filho de Joaquim Beato e Teresa Beato, tive a graça de nascer numa família cristã e fui baptizado, com 6 meses, a 15 de agosto, na Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria. Fiz o meu percurso normal de catequese nesta paróquia, onde cresci e aprendi a seguir os passos de Cristo.

Passo a passo fui descobrindo este Mestre que me desafiava sempre mais e mais, mesmo às vezes sem perceber para onde caminhava e sem ter consciência do que me pedia. Mas uma coisa é certa: Jesus conduzia-me para caminhos que me levariam a uma descoberta de mim mesmo, da sua Igreja e do seu coração de Pastor. Hoje, para mim, já é mais fácil olhar para trás e reconstruir todos estes passos. Normalmente, quando me questionam acerca do momento em que senti o chamamento de Deus para ser padre, costumo dizer que não tive uma aparição divina, nem acordei um dia a pensar em entrar no seminário. Deus serviu-se de muita gente e colocou-as no meu caminho. Familiares, catequistas, padres, seminaristas e outras pessoas que foram verdadeiros sinais da presença e do chamamento de Deus. Cada uma à sua maneira, apresentaram-me Jesus Ressuscitado e que tive a oportunidade de encontrar. Foi este Jesus que me tocou e desafio a abraçar esta vocação.

Recordo aqui apenas três lugares, neste percurso, que foram fundamentais para a consolidação do Sim vocacional. O primeiro foi o grupo de Acólitos, onde entrei com apenas 9 anos. Lugar onde fui crescendo como cristão, vivendo de muito perto o mistério pascal de Jesus, servindo o altar. Toda esta vivência foi moldando o meu coração.

Outro lugar foi o Pré-Seminário da minha diocese. Com 15 anos comecei a ser acompanhado nestes encontros vocacionais pelo Cónego Emanuel, reitor do seminário e pelos seminaristas. Encontros que provocaram em mim, de forma mais séria e profunda, a questão da vocação sacerdotal. Aliás, foi depois de três anos de caminhada neste grupo que decidi arriscar e seguir Jesus desta forma: caminhar em Seminário.

O terceiro lugar foi, sem sombra de dúvida, o Seminário do Patriarcado de Lisboa, nas duas casas de formação que o compõem, onde tive a graça de fazer a minha caminhada de discernimento vocacional. Muito podia escrever sobre este tempo, mas a limitação de texto me impede. Contudo, destaco aquilo que acho essencial.

No Seminário aprendi a viver em comunidade, a conhecer melhor a vida em Igreja e a olhar para a minha condição baptismal que me comprometia a vida. Descobri neste tempo o que é verdadeiramente “ser Igreja” e o Mistério que todos somos convidados a celebrar e a viver diariamente.

O Seminário foi um lugar de desconstrução do que havia a desconstruir e de construção do que havia a construir. Um tempo e um lugar de crescimento como cristão e como pessoa. O homem que hoje sou devo muito ao Seminário. A caminhada próxima e amiga que os formadores tiveram comigo, e que têm com todos, foram essenciais para a construção desta história vocacional: “Não caminhamos sozinhos, mas caminhos em Igreja”, foi das coisas mais belas que aprendi e vivi no Seminário. Na meditação diária da Palavra de Deus fui percebendo que Deus me chamava a entregar a vida no ministério presbiteral. Os tempos fortes de silêncio e oração, tais como os retiros e recoleções mensais e a reflexão das dimensões essenciais na vida de um padre (“ser filho”; “ser irmão”; “ser servo” e “ser sacerdote”), temas propostos pelos directores espirituais, alimentaram o meu sim diário e construíram a decisão livre de abraçar o ministério.

O Seminário, para além de ser um lugar de encontro com Deus foi também de encontro com os outros que caminharam comigo. Todos diferentes, mas todos seguindo o mesmo e único Jesus. Aprendi a viver a fraternidade cristã, nem sempre fácil de construir, mas tendo-a como horizonte de vida. Para além de formarmos uma comunidade mais alargada, estávamos inseridos num curso. O meu curso é o Curso de São Francisco de Assis.

Com o terminar do percurso em Seminário, voltei para a minha Diocese de Portalegre-Castelo Branco, servindo a Paróquia da Sé de Portalegre com o Cónego Emanuel. Aqui dei os meus últimos passos, enquanto seminarista, e exerci o meu ministério diaconal até à ordenação presbiteral que aconteceu a 13 de julho de 2019 pelas mãos do Sr. Bispo D. Antonino Dias.

Hoje sou padre e sou muito feliz. Fui nomeado como pároco in solidum das paróquias de São Miguel da Sé e São José Operário (ambas na cidade de Castelo Branco) e da paróquia rural de Benquerenças. Tenho a oportunidade de ser pároco juntamente com o Padre Nuno Folgado, que foi prior da minha paróquia quando eu tinha 15 anos. Tem sido um tempo desafiante, exigente, mas onde tenho, em tudo, aprendido a ser padre: na celebração da Fé, no acompanhamento das catequeses e dos grupos de casais (acompanho um grupo do Movimento dos Casais de Santa Maria), na proximidade aos movimentos paroquiais, nomeadamente aos Cursistas e nas visitas aos doentes no Hospital da cidade (faço parte da equipa de capelães). Tenho vivido a minha vocação com a simplicidade e a proximidade de Jesus. Como São Francisco de Assis, tenho procurado “levar a alegria onde há tristeza, levar a união onde há discórdia, levar a fé onde há dúvida, levar o perdão onde há ofensa, levar a esperança onde há desespero, levar a luz onde há trevas e levar o amor onde há ódio”. Assim Deus me ajude e esteja sempre comigo para poder levar a todos aqueles que se cruzarem comigo a confiança no Evangelho, a esperança e a alegria da Páscoa de Jesus.

Pe. André Beato, abril de 2020

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