Meditações de Advento

Nestes Domingos do Advento, publicamos algumas reflexões para ajudarem a rezar.

Primeiro Domingo

O Advento de Cristo é sempre uma surpresa de Deus, no Hoje da nossa vida, como foi há dois mil anos e como será no fim dos tempos. E a Sua chegada foi, é e será sempre pascal!  Por isso mesmo, só um coração vigilante O pode acolher, quando Ele surpreendentemente bater à nossa porta, e só um coração pascal poderá sentar-se com Ele à mesa, tomando parte da Sua alegria. Este é o desafio com que somos mais uma vez despertos, no início deste tempo de Advento: VIGIAI!

VIGIAI, porque o nosso Deus vem misteriosamente ao nosso encontro, pedindo delicadamente para entrar nos corações que lhe pertencem: é o Amor que novamente se propõe e jamais se impõe!

VIGIAI, porque tantas vezes andamos absortos no meio das nossas preocupações e anseios, medos e dúvidas, sem levantarmos o olhar para Aquele que nos pode salvar:  o Senhor vem.. isso nos basta!

VIGIAI, porque o comodismo tende a anestesiar-nos e a embriaguez dos sentidos tende a alienar-nos, impedindo-nos de cultivar aquela presença de espírito requerida a quem espera o Seu Senhor no meio da noite, com as lâmpadas acesas: só a vigilância permite a prontidão na resposta!

E se tudo isto nos é proposto neste Primeiro Domingo do Advento não é apenas para o vivermos por estes dias de expectativa. Enquanto peregrinos deste mundo, viveremos permanentemente nesta tensão entre o Aleluia pascal e o Maranathá escatológico, entre o e o ainda não, pelo que a vigilância na fé há-de ser sempre a atitude que nos permite avançar por entre as noites do caminho. Não há vida espiritual sem vigilância! Não há discernimento vocacional sem vigilância!

Segundo Domingo

Uma das perguntas que vai atravessando toda a Sagrada Escritura, é dirigida para o alto: Até quando Senhor? O coração humano experimenta esta difícil combinação: ao mesmo tempo que se anuncia a chegada e a intervenção do Senhor na nossa vida, também parece existir um certo atraso da Sua parte. Marcámos encontro e salvação para agora, mas até então está tudo na mesma. Quem procura respostas para decidir bem, quem espera ver-se livre do sofrimento, quem anseia uma nova vida convertida, quem sente uma tristeza por algo que está a acontecer na sua vida, ou quem simplesmente procura ver a face de Deus poderá acabar por fazer essa experiência de não chegar a um desfecho de forma imediata. Desejaríamos que algo acontecesse já, mas será para depois; precisaríamos que Deus agisse neste momento, e nada aconteceu até agora.

É um mistério difícil de penetrar e entender: a forma como Deus nos ama e nos salva através do tempo. Como é que Deus usa o tempo para me fazer bem? Será que os segundos que passam são sinónimo de esquecimento por parte de Deus, ou serão precisamente o grande anúncio de que Ele é fiel?

Nos tempos que correm, se nos puserem duas portas à frente dos nossos olhos em que uma diz “já” e outra diz “esperar”, sabemos que rapidamente atravessaremos a primeira. Tudo é tão rápido e acelerado, tantos detalhes do dia-a-dia são-nos garantidos de forma imediata. Que Deus queira salvar-me fazendo-me esperar parece simplesmente uma lógica que não cabe nos ritmos que pautam o nosso respirar diário.

            Mas é assim que Deus ama este mundo. O Filho de Deus é enviado ao mundo por amor, mas foi depois de toda uma enorme história de preparação. Mundo criado, história de um povo escolhido, profetas e reis, e só depois é que chegaria o Messias. Mas mesmo ao chegar, nada acontece à pressa: há um nascer, crescer, viver em Nazaré. E mesmo quando a manifestação pública de Cristo está para acontecer, ainda antes de vermos o Senhor, aparece-nos a figura de João Baptista. Ainda temos de esperar mais um bocado. E ao prestar atenção a João no deserto, ouvimo-lo dizer: Depois de mim vai chegar. Cá está: depois. As perguntas mais imediatas e impacientes seriam: Mas porque é que Ele nunca mais se manifesta? Falta muito? Não poderia ter vindo salvar o mundo de forma mais rápida? Não teria sido melhor intervir mais cedo? Um Deus que vem depois, aparentemente atrasado, mas que chega sempre na hora certa, na hora mais necessária. É sempre a plenitude dos tempos que Ele prepara para mim. Precisava desta hora em que Ele chega, mas também precisava da espera em que Ele ainda não tinha chegado. Em todo o processo Deus estava a ser fiel.

Diz-nos São Pedro, conhecendo bem o imediatismo do nosso coração:

Um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia. O Senhor não tardará em cumprir a sua promessa, como pensam alguns. Mas usa de paciência para convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos possam arrepender-se. 

Por ventura temos de ser reeducados para acolhermos a salvação deste modo. Pensaríamos que quanto mais rápido Jesus fizer obra melhor…se calhar ainda vemos mal, vemos pouco, captamos de forma reduzida o bem que Deus nos faz quando nos pede para esperar as suas surpresas. Como as crianças que constantemente perguntam numa viagem “falta muito?” e não se apercebem que só através dessa espera poderão experimentar a alegria do que as aguarda no destino. Quando esperas Deus não se esqueceu, não está ausente; está a preparar-te. A sua salvação está perto.

Terceiro Domingo

Estamos a viver o terceiro domingo do advento, também conhecido por domingo Gaudete, palavra latina que nos convida a alegria. Esta alegria brota da fé e da esperança da vinda do Senhor e do amor com que preparamos a sua vinda. Expressa bem este sentimento o que a raposa dizia ao principezinho de Saint Exupéry: “se vieres às quatro horas, às três, já eu começo a estar feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sinto”.

Esperamos o Senhor, sabendo que ele já veio, vem e virá no final dos tempos. Enquanto esperamos o Senhor, Ele, que já está no meio de nós, enche-nos da sua presença salvadora, tal como escutamos na primeira leitura: “Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça” (Is61, 10).

Neste domingo do advento, João Batista aparece para testemunhar a luz de Jesus, por duas vezes afirma que que não é a luz, mas veio para dar testemunho da luz. João não se ilude a si mesmo, na sua humildade sabe a sua verdade: ele não é o Messias, é apenas a voz que clama no deserto deste mundo e nos convida a despertarmos de uma vida de ilusões e mentiras. Por isso, é preciso endireitar os caminhos, pôr-nos a jeito para que a luz vença as sombras da nossa vida e para que, neste ano da graça do Senhor, possamos acolher a boa nova do Messias que vem para os pobres, para curar os corações atribulados, e proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros (cf. Is61, 1-2).

Assim, na proximidade do Natal, a Palavra de Deus interpela-nos e desafia-nos a sermos testemunhas com a nossa vida da alegria da presença de Jesus entre nós e pede-nos que sejamos “voz que clama nos deserto” e testemunhas da sua luz para este mundo, amado por Deus.

 

Quarto Domingo

À espera d’Aquele que já é-connosco, dispomos o coração para acolher a fidelidade de Deus: o que há muito prometera a David, cumpriu-o definitivamente. E realizou-o de forma insuperável: uma Virgem fica grávida e dá à luz a própria Luz, o mais pleno Filho de David. Se a Deus até isto é possível, afinal os nossos bloqueios definitivos…não o serão. No Domingo mais mariano do ano, aprendamos com Nossa Senhora a confiar e obedecer a Deus, que realizará o que de outra maneira seria impossível — sairmos das nossas trevas. Eis-me! Faça-se!

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